Corrente de Reviews: Arakawa Under the Bridge

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E a Corrente de Reviews volta ao Mangathering! Em 2012, o Luki escreveu sobre [C] – The Money of Soul and Possibility Control, lembram? Para quem não sabe, a Corrente de Reviews, organizada pelo Anikenkai, é um grande evento da blogosfera otaku em que cada blog recebe uma indicação de um anime/mangá de outro site, faz um post sobre a obra e, enfim, recomenda uma obra a outro blog. O blog Um Anime Por Dia me indicou o anime Arakawa Under the Bridge.

Baseado no mangá de Hikaru Nakamura (autora de Saint Young Men), Arakawa Under the Bridge é um anime de 2010 produzido pelo estúdio Shaft, que tem uma premissa curiosa: Kou Ichinomiya é um jovem rico oriundo de uma família tradicional que comanda uma das principais empresas do Japão. O lema de sua família é “nunca dever nada a ninguém”, e Kou o segue à risca, evitando ao máximo qualquer tipo de ajuda ou favor de outrem. Porém, após ser vítima de uma travessura, Kou vê suas calças serem penduradas num lugar fora de seu alcance e, pior ainda, acaba caindo no rio abaixo da ponte Arakawa. Uma bela moça chamada Nino o ajuda, e assim o rapaz passa a dever um favor a ela. Ela pede para que ele seja seu namorado, e sem saber que Nino mora debaixo da ponte Arakawa, junto a várias alegorias estranhíssimas, Kou acaba tendo de morar com sua nova namorada.

Quando digo “alegorias estranhíssimas” me refiro aos excêntricos moradores do leito do rio Arakawa, figuras realmente bizarras que vão desde um kappa- que, “estranhamente”, tem um zíper em sua pele esverdeada, mas só Kou parece perceber isso- até lolis psicopatas e um “homem-freira” sobrevivente de guerra.

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É interessante a forma como se constitui uma espécie de sociedade formada por figuras excêntricas em um lugar que normalmente seria o lar das vítimas da desigualdade social. De certa forma, é evidente o contexto social da obra, que costuma retratar personagens tão esquisitas justamente para diferenciá-las dos cidadãos “normais” e deixar evidente que toda essa esquisitice não seria aceita em uma sociedade séria. É comum, no dia-a-dia, ver o contraste causado por trabalhadores “normais” passando ao lado de moradores de rua e outros tipos de exclusos da sociedade, e Arakawa se utiliza de circunstâncias semelhantes para retratar essa exclusão: no sexto episódio, por exemplo, quando, ao passar pela ponte acompanhado de sua mãe, um garoto pergunta a ela “Mamãe, por que aquela gente vive ali?”, tendo como resposta “Não olhe para eles!”, e ainda insistindo “Por quê?”, tendo o diálogo encerrado por um “Vamos logo” de sua progenitora, que nem se dá o trabalho de explicar a situação e prefere criar o seu filho de maneira a ignorar aqueles subcidadãos.

Não que as personagens de Arakawa sejam retratadas como pobres, claro que não. São apenas figuras com características incompatíveis com a sociedade que acabam construindo uma espécie de vizinhança na região. Kou, que chega no local como um rapaz preso às regras tradicionais daquela sociedade que renegou os moradores de Arakawa, visivelmente mostra certa arrogância e até preconceito à medida em que a trama se desenrola, mas com o tempo ele passa a se desprender- mesmo que aos poucos- dos vícios e do apego tradicionais de seu antigo ambiente e aprende a valorizar a identidade pessoal, a preferir o “ser” ao “ter”.

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Porém, o grande foco de Arakawa Under the Bridge não são as críticas ou referências ao mundo real, mas sim o humor. O elenco, constituído de personagens inacreditavelmente bizarras, é um charme: capaz de tirar risadas do espectador em várias situações- principalmente contrastando a estranheza da maioria das personagens com a impaciência e a “normalidade” do protagonista- e de fazer com que se passe a gostar dessas peças com certa facilidade. Apesar de tudo, são personagens carismáticas.

A trama não anda tanto: os episódios costumam estreitar os laços entre Kou, Nino e os outros habitantes, ou mesmo entre o espectador e o elenco, mostrando a adaptação do protagonista àquela vida e o funcionamento daquela subsociedade, sempre com muito humor. Em alguns (vários) episódios, vemos introduções com reflexões sérias que contrastam com o clima absurdo da obra, gerando um humor quase involuntário.

O character design é bacana, mas nada tão destacável; o aspecto visual de Arakawa Under the Bridge- quando digo isso, me refiro principalmente à arte e a animação- é um pouco irregular; a trilha sonora também não se destaca muito, apesar de tanto a opening quanto a ending de certa forma combinarem com a atmosfera da obra.

Arakawa Under the Bridge é uma ótima pedida para quem busca um humor leve- que não vai matar ninguém de tanto rir, mas entretém- com situações e personagens absurdas, além de um contexto social interessante que nem sempre fica tão evidente ao espectador menos atento. Não é um anime obrigatório, mas é recomendável.

KTWNRco
Parte da proposta da Corrente de Reviews é recomendar uma obra que normalmente não seria pauta no blog sorteado, e creio que, nesse sentido, escolhi bem. Já tinha em mente um mangá, independente de qual fosse o blog para o qual eu deveria recomendá-lo, pois além de muito interessante e de difícil análise crítica, este, por ser um mangá pouco conhecido e com uma linguagem bastante diferenciado, certamente seria algo incomum para boa parte dos blogs participantes (a maioria). Minha recomendação, para o blog Across the Starlight, é o mangá Fetish, de Kaoru Fujiwara. Espero que tenham gostado da obra.

Sobre Daisuke~

Amante de cinema (e de arte e entretenimento de forma geral), adora escrever sobre filmes, livros, mangás, etc.

Publicado em outubro 18, 2013, em Especial, reviews e marcado como , , , , , , , . Adicione o link aos favoritos. 2 Comentários.

  1. Como vais Daisuke?

    Relembro que um blog do tipo wordpress tinha resenhado ‘[C] – The Money of Soul and Possibility Control’,anime que provoca mais ou menos as mesmas reações.
    Estando a minha opinião da época essa: 23.[https://mangathering.wordpress.com/2012/09/14/correntedereviews-c-the-money-of-soul-and-possibility-control/]
    Review de tamanho mediano sobre um anime de grande hype,porém que felizmente -devido a influências negativas(maioria delas) e positivas- não foi acompanhado pelo autor da postagem.Felizmente,porque conseguiu se divertir e ainda se manter interessado apesar da onipresente pergunta,prática & filosófica,associável à sua premissa: Compensaria se arriscar para ter certezas financeiras no futuro?E principalmente,como ser bem sucedido nessa empreitada(e de preferência sem tanto esforço :D)?

    * Referente ao texto atual:
    Já li uma resenha de Saint Young Men também.No entanto voltando ao Arakawa Under the Bridge,o lema de “nunca dever nada a ninguém” é novelesco como na adaptação da obra de Jorge Amado,’Porto dos Milagres’ -> novela das 9,em que Antônio Fagundes interpretara gêmeos,contudo o gêmeo Félix Guerreiro{http://zappiando.files.wordpress.com/2011/02/gemeos-de-novela-porto-dos-milagres-mn-5251.jpg} que tinha esse lema de vida nos moldes baianos(de novela) do ex-preferido do horário nobre: Jorge Amado.

    Arakawa seria muito mais original e entreteria com mais propriedade do que o repeteco das 21 h que não faria uso de uma marginalização nonsense ou tão direta quanto a repulsa de que contou: “(…)Mamãe, por que aquela gente vive ali?”, tendo como resposta “Não olhe para eles!”, e ainda insistindo “Por quê?”, tendo o diálogo encerrado por um “Vamos logo(…)”.

    O “preferir o “ser” ao “ter”,como disse,soa como um discurso de desdém hippie ou de sociedade alternativa doutra denominação,todavia penso que num
    equilíbrio a identidade pessoal não precisa ser morta ou transfigurada pelo simples agrado do que no fundo(nem tão fundo) desagrada aos terceiros.

    Reflexões de seriedade como instantes de iluminação engrandecem todos personagens cômicos,é bom notar essa ocorrência,eu acho… também acha???

    Entendi como se eles estivessem pegando intimidade da primeira temporada,e quem sabe contaram como “foram parar embaixo da ponte” na segunda temporada
    “Arakawa Under the Bridge x Bridge{Né esse o nome?}”.

    Vou ter em vista suas considerações e sua recomendação…Gostei da forma da resenha. =)
    *Nota: Reconheci a voz da cantora da Opening,Etsuko Yakushimaru,de “Nornir(em Mawaru Penguindrum)”

    See ya!

  2. Muito bom
    esse anime,
    na segunda temporada q é engraçada a parodia q fizeram
    do metal gear solid.

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